segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Impunidade e corrupção: um jeitinho brasileiro

Autor: Walter Cunha

Há muito tempo, ouve-se dizer que o povo brasileiro é um povo lutador e que diante das dificuldades não se deixa abater e segue em frente, lutando contra as adversidades. O problema é que nunca é dito de que maneira é travada essa luta. Seja em problemas sociais, que diz respeito ao povo, seja no âmbito individual, geralmente, ouve-se a expressão: Não se preocupe, daremos ou darei um jeitinho na situação. O famoso jeitinho brasileiro que facilita tudo, na hora de resolver os problemas. Uma cordialidade comprada.

O que sempre me chamou a atenção é que esse jeitinho está sempre atrelado à uma infração, a um desrespeito às regras, a um modo obscuro ou ilegal de se obter tais facilidades. Porque na verdade, o que se deseja diante de um problema é a facilidade para solucioná-lo, muitas vezes, a qualquer custo. É aí, que reside o perigo do tal jeitinho. Ao se infringir as regras, ao burlar a Lei e ao agir de maneira ilegal, a conseqüência natural e esperada seria a punição no momento em que essa ação fosse descoberta. Mas, não é bem assim, no Brasil. A nossa sociedade aprendeu que nem todas as infrações, leves ou graves são punidas como deveriam ser e assim, se habituou a praticar, sem muita preocupação, o tal jeitinho, em qualquer situação que exija um esforço maior para resolvê-la.

Nos casos mais simples como furar uma fila de espera ou em casos mais sérios como o desvio de verba pública, destinada ao bem comum da população, o jeitinho é aplicado sem a menor preocupação com a punição. Como conseqüência disso, a corrupção se tornou também, comum na sociedade.

A nossa corrupção nada mais é do que o exercício desse jeitinho. Ela está presente nos conchavos políticos, nas licitações públicas, na atitude de privilegiar o outro em detrimento de quem realmente precisa, enfim, virou sinônimo de esperteza e ser esperto por aqui, dá mais ibope que ser honesto.

O que é preocupante diante dessa inversão de valores, onde o esperto e bem sucedido é aquele que consegue, por vias mais rápidas e fáceis atingir seus objetivos na vida, não importando como isso se dê, é a despreocupação das famílias em ensinar e repassar aos seus filhos e futuras gerações, valores como honestidade, compaixão, solidariedade e responsabilidade. A causa dessa despreocupação está aí, exposta no cenário da política nacional. Os casos de corrupção graves, onde os infratores, além de não serem punidos, com o tempo e o esquecimento geral, voltam a praticar seus atos corruptos, alguns novamente em cargos públicos, sem o menor pudor.

Recentemente, para exemplificar, os meios de comunicação veicularam as investigações em casos de corrupção no senado federal, acusando o senador José Sarney de atos ilícitos na carreira política que o sentenciariam a perda do cargo político. Nos ministérios do Governo Dilma também. Certamente o jeitinho brasileiro se fez e se faz presente e ao fim das investigações não se conseguirá provar nada contra o senador, nem contra qualquer colarinho branco, para relembrar o termo, embora todos saibam que ele é responsável pela continuação do domínio oligárquico no estado do Maranhão e um dos expoentes da corrupção no país.

Isso prova que o jeitinho brasileiro ainda está longe de ser extinto na prática, tanto na ascendente classe C ou no intocável vértice da pirâmide, onde fica a classe A da sociedade e que, as pessoas, que ainda não se deixaram levar pela inconseqüência e irresponsabilidade na ação de tais atos corruptos, continuarão como vítimas, sem jeitinho.

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