quarta-feira, 21 de março de 2012

Na noite calada

Autor: Walter Sá

Nessa cidade cinza cimento,
Sinto o fedor de um desejo mofado,
Sinto o tormento de homens desesperados
E tento colorir com sorriso amarelo,
O caos do momento ignorado.

Prédios, muros e congestionamentos
São impregnados de frieza,
São elementos da tristeza.

Respiro os canos de descargas,
Mastigo restos das calçadas,
Durmo o sono dos aflitos e me
Lavo com o suor dos renegados

Assim, descalço e despido do disfarce diário
Vagando pelas alturas da Paulista
Ou nos buracos do Vale
Descubro as pistas que levam essa
Cidade arrogante aos caprichos
Da usura e do descaso

Vejo políticos, fardados, banqueiros engravatados
Sob o mesmo telhado
Fazendo alianças e comendo
Nosso rabo

Na hora da desforra
Sem medo da algazarra
Festejaremos ao nosso modo
Invadindo as ruas e suas salas
Levando alforria a esse povo
Que chora e morre um pouco todo dia
No frio da noite calada.

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